terça-feira, 16 de agosto de 2016

Me deixa em paz

Meninoooo, 
Me deixa em paz 
Que o teu violão 
 e a tua mochila de couro 
Já não mexem mais 
Com meu coração de ouro 

Meninoooo, 
Devolva a minha paz 
E procure uma casa, 
Eu te expulso agora 
Porque em mim, meu bem  
Tu já não mais moras 

Teu chinelo sujo, de samba muído 
Fez em mim castigo infinito  
De alguém que já não te deseja mais 

Teu sorriso torto  de  olhar triste 
E maremoto num rio que insiste 
Em ficar morto e represado 
Num falido passado 

Menino,  
me deixa em paz 
Que no rastro das mulheres 
Que você traz 
Não encontrarão meu corpo 
Meus olhos 
Meus rosto 
Minhas pintas 
Minhas mãos 
Nem qualquer parte de um botão 
De uma camisa que eu resolvi deixar por aí 
Só pra você lembrar  
Que eu já te esqueci.

domingo, 29 de maio de 2016

Ê painho...

Ê painho,

que desse nó eu não guardo nenhum fio
Desatou junto com o cigarro que acabou
da minha represa eu fiz um rio
e o teu sorriso ele afogou

Ê painho,

A solidão sempre foi o meu caminho,
acompanhada pelos meus desatinos
Mas dos teus passos eu sinto dó
pois não sabem o que é ser só

Ê painho,

das tuas botas e boné 
eu mal recordo
junto com os "xêros" e cafunés
que eu não mais imploro

Ê painho,

Da miséria do amor
morreu o poeta e trovador
Deixe de mendigar por ai
um amor que nunca vai existir

Aprenda: É melhor morrer de fome
               que matar a mulher que come

Ê painho,

eu te perdoo porque seu problema é covardia
de quem sempre foi lago, barragem e apatia
e se assusta com os relâmpagos da tempestade
de quem é chuva e liberdade.

ê painho....




segunda-feira, 9 de maio de 2016

magritte 
 
Te traguei até o filtro

A espinha dorsal do tempo
Se sustentou na intensidade de instantes
Do teu gosto eu guardo o lento
Dos teus movimentos, o nós amantes

Te traguei até o filtro

Nos preservei na estante
Com clarice e Saramago
Seus toques, pelos e semblante
Com teu timbre e ritmo canonizado

Te traguei até o filtro

Na nicotina dos teus beijos,
No teu toque, tua carne
Me desnudei toda em desejo
E maldice a liberdade

Te traguei até o filtro

Fiz tempestade de mim no teu vendaval
Soberana de si, ser todas elas é o meu caos
Do cigarro que sobrou, o vento fez questão de apressar
A combustão do que restou e nem implorou para tardar

Te traguei além do filtro.





sexta-feira, 24 de julho de 2015

Oração ao meu irmão


 Hoje, como de costume em quase todas as sextas, eu fui buscar o meu irmão mais novo na escola. O meu primeiro susto foi vê-lo saindo do portão do colégio sem que eu sequer tenha chegado a atravessar o segundo sinal. O segurança havia deixá-lo passar sem observar algum adulto para buscar aquele (até então desconhecido para mim) pré-adolescente. Dei um abraço, perguntei o que havia estudado e perguntei o motivo pelo qual ele já estava saindo antes mesmo de eu entrar na escola. Ao entrar no carro, ele se sentou no banco da frente - já não tinha mais medo de ir ao meu lado direito e de enfrentar a minha forma crazylilice de dirigir. Foi o segundo susto. O terceiro veio quando ele chegou para mim, com esses olhos de poesia como diria uma amiga, e disse "olha alicinha, a primeira espinha nasceu aqui no queixo, essa safada!" 
Eu tive meu terceiro susto do dia e aquilo mexeu profundamente comigo. 
O João, desses que a minha vida é repleta, não era mais aquele menino que me chamava com apenas uma vogal do nome porque não conseguia pronunciar meu nome inteiro. Eu já não precisava mais acordar ele e vesti-lo com aquele short que mais parecia uma calça e ainda com cheirinho de leite levá-lo para a escola. Ele também não era mais aquele menininho de cabelo grande que eu sempre achei que seria um nerd da sala de aula pela fissura em Star Wars e um jeito de quem gostaria de Heavy Metal. O meu joão virou alguém que nunca esse grupo de irmãos havia sido: um participante daquele grupo popular da sala, que não curtia tanto estudar - apesar de ser bem esperto - e fazia sucesso entre as meninas. 
Um filminho passou pela minha cabeça: a notícia que minha mãe, já quase na casa dos 40, havia engravidado, eu o pegando pela primeira vez em meus braços e estranhando aquela cara de joelho inchada, as madrugadas em que meu irmão mais velho passava estudando e brincando com ele enquanto meus pais dormiam, minha volta da escola recepcionada por um bebê gostoso brincando no chão da cozinha enquanto minha mãe cozinhava, a primeira escola, a doença rara que quase fez a gente acreditar que ele perderia a visão e etc. Deve ser mais ou menos assim que uma mãe se sente ao ver os aniversários dos filhos. 
Depois do joão almoçar e enquanto ele dormia, sentei no pé da cama dele como fazia quando bebê, e comecei a pensar. Quando me vi já estava orando. Não orava ao divino... orava ao João, porque tudo o que invocava eram desejos concretos, alcançáveis e humanos.
Comecei pedindo para que ele sempre se lembrasse dessa fase que está por vir, com espinhas, aparelho e mudanças corporais. Que se lembrasse dessa fase toda vez que visse as meninas, e recordasse do quanto ele é lindo com tudo isso que está ocorrendo porque ele é muito mais que isso. Orei para que ele percebesse todas as meninas das salas e vissem todas as belezas diversas que a sala dele é repleta, de meninas de todos os tamanhos, diâmetros, pesos, com cabelos de todos os tipos e peles coloridas. Que a beleza da vida está nas diferenças, e que assim como só a gente, seu núcleo familiar, reconhecia o que ele falava nos seus 3 anos de vida, algumas pessoas não conseguiriam perceber a beleza dele nessa fase - mas que ele não deixaria de ser lindo nela. E por isso também, respeitasse e visse todas as formas de beleza de cada uma das meninas e mulheres que passarem por sua vida de todas as formas possíveis, que compunham a histologia da raça humana. Rezei para que ele compreendesse que nem toda menina ele vai namorar ou casar, mas que todas elas, sem exceção nenhuma, mereciam respeito - independente das roupas que elas vistam, e que quando alguma menina sofresse algum tipo de violência, ele se propusesse a ajudá-la e a defendê-la. Assim como  eu fiz naquele dia em que ele ficou numa fila do MC Donald´s com dinheiro na mão enquanto os adultos passavam na sua frente por não o respeitarem pelo seu tamanho. Orei, do fundo do meu útero - que sempre foi mais forte que o meu coração - para que se um dia ele namorasse e a namorada engravidasse, por descuido de AMBAS partes, ele não a culpasse. E que a deixasse livre para a decisão e estivesse ao seu lado em qualquer que ela fosse, assim como fizeram os meus pais com relação a sua gravidez de risco para minha mãe, que era hipertensa e quase na casa dos 40. 
Orei sim, com todas as forças que uma mulher pode ter, para que ele continuasse esse João, com espinha no queixo, aparelho e casca de feijão nos dentes, pensando sempre que poderia ser sua mãe ou sua irmã aquela mulher que passa, que chega, que entra pela porta, que sai pelo corredor... 
Que de todos os defeitos que um ser humano pode ter, a covardia não te acometa meu pequeno João.

Ass. Lilice

terça-feira, 2 de setembro de 2014

O apreço não tem preço


Eu sempre tive dificuldade em achar pessoas. Não tô falando de encontrar, esbarrar, conhecer, tomar cerveja ou dar carona. Sempre foi um parto para mim, compreender a doação. Não a doação em si, mas a doação desinteressada, sem perspectivas ou necessidades. Tudo em mim é paixão... a amizade também é.

Eu tenho um mundo na minha cabeça repleto de dragões e serpentes. Um jogo de xadrez que eu nunca venço e a rainha nunca morre. Essa tarefa árdua de deixar o outro entrar é tão complicada para mim quanto a matemática: seis são seis e não me adapto ao mais um ou menos dois. Meus fatores são sempre os mesmos, sem equações já que não admito resultados diferentes.

A libriana é tudo que eu sinto mas muito melhor. Ela foi a pessoa que olhou para mim e me viu sem que eu sequer falasse nada. Ela me ouve com olhar, me escuta com o abraço e me acalma com um sorriso. É quem me defende também, mesmo eu estando errada quase que o tempo todo - mas nunca na minha cabeça. Ela é a minha certeza quando tudo for dúvida.

A pretinha é quem combate a minha alma escura com toda essa alma clara que ela carrega, porque se fôssemos da cor de nossas almas, seriamos ao contrário uma da outra. Ela foi a amiga que sentiu falta do meu stress quando a minha alma ficou cinza e trouxe cores novas para ela, uma flor para enfeite e um colar de pérolas rosas. Ela é Deus provando que existe e que mesmo eu não querendo, me acompanha.

A nordestina foi a minha lição de vida, foi o espelho do meu preconceito e um tapa no meu egocentrismo. Foi a desconstrução do que eu achava saber e um mundo novo que se apresentou diante dos meus olhos. Ela é o destino sendo o meu professor e me ensinando a abrir o caminho tornando ele menos pesado quando se divide o que dói.

A cuca foi a minha panela de novos prazeres gastronômicos e vitalícios. Deu sabor aos dias sem querer, um tom mais alto às alegrias mas às minhas frustrações e erros também. Ela faz o que é de ruim em mim berrar, como a professora de ballet que bate nas suas pernas. Mas se o faz é porque sabe que eu só aprendo na dor e que de amargo também é feito o melhor chocolate do mundo.

A carioca foi eu me achando quando eu estava perdida. Ela é a melhor versão de mim. Quando eu voltei de um encontro com o vazio, deitei ao lado da cama dela, olhei pro teto e e decidi: tá na hora de ser eu de novo.

Das nossas lutas internas o outro não entende. Descubro agora porque sempre foi tão difícil achar pessoas: Tenho medo de perdê-las.

Eu as encontrei quando havia perdido um ser tão especial mas que eu mesma expulsei. A palavra é essa: eu expulsei ele. Será um mecanismo de auto-sabotagem esse teatro que eu já enceno há tanto tempo que nem sei mais o que  é ou o que não é de mim? E ainda assim algumas pessoas ficam.

Mas elas ficam por amor. E foi num tempo de superestimar tudo aquilo que não foi que eu decidi ir me reinventar. Foi a vida dizendo que nem tudo é paixão ainda que EU seja.

Eu perdi um amor e pari seis novos. Cheguei na "aborrecência", onde tanto eles quanto eu tentamos achar o jeito certo de continuar criando e desenvolvendo. Eu reconheci meus tons nelas e por elas me vejo.

Mas a decisão de ser melhor está aqui dentro. Por mim. Por elas.

Aos que como eu, vivem ao Deus dará, eis uma dica: o apreço não tem preço.


segunda-feira, 21 de julho de 2014

Ela é doida de jogar pedra!


A frase que eu mais escuto na vida é: "você é doida menina!"
Diferente também. Mas o adjetivo maluca aparece mais no meu vocabulário de vida.
Eu me acho doida. Eu sou doida. Não fui diagnosticada porque eu nunca fui ao médico e interrompo toda terapia que começo.
É coragem demais para ser doida. Medo demais para se entender.

O passado crepita o tempo todo, é como um relógio fazendo o tic tac num silêncio atordoante esperando para a dar a hora do alarme gritar.
 Tic Tac, Tic Tac....
Incêndio. Ele bate à porta, pedindo licença para entrar. É um prelúdio da astenia da alma: não é a hora ainda. Ficas aí passado, guardado na espinha dorsal do tempo, enquanto eu recomponho minha capa de super-herói e você se confina no tempo verbal que te pertence, este que fica para trás.
 Tic Tac Tic Tac

Malgrado as palavras acutiladas na garganta, não é tempo de soltar o verbo que é vivo e muda com os dias. Meu útero não consegue carregar o indulto ainda, mas o feminino tem disso, esse dom de criar epifanias, e a redenção virá do nascimento do perdão e o passado como concreto. Enterrado com os sapatinhos de lã amarela.

Tic Tac Tic Tac
Eu sou louca porque minha vida é insana. Vogo pelo chafurdo da realidade inconstante, me imolo por tudo que me amarfanha, ataranto o equilíbrio dos verbos temporais só pelo prazer de mudar o número dos sujeitos. Prejudico o predicado na insistência ardil de economizar as palavras e aumentar o significado das pessoas. Tú, Eu... ELE. Pra quê predicado? Basta saber o pronome relativo.

Ser doida não é fácil, é o motivo pelo qual você cria amigos, é também o motivo do rastro de pessoas que te odeiam. Você se habitua a respirar fora d`água. Mas o zénite de ser maluca é ter a existência mais que justificada: ela é necessária.

E o passado? Ele vai tomar um café e fumar um cigarro em qualquer buteco da Voluntários da Pátria  em qualquer momento do futuro. Mas o presente, este que corre no relógio e engravida o útero, requer tempo para partejar. Vai ficar para uma próxima viagem que não seja fuga.

Não é por mágoa e nem por mal, é pelo nada. Não entendeu? Tudo bem, é que sou doida de atirar pedra!

Tic Tac Tic Tic Tic Ti T...


domingo, 4 de maio de 2014

Galego

Qualquer calma que venha com pressa
um porto para eu nadar segura
o relógio que ansioso dispara
um tempo vagaroso de um abraço.

são os olhos verdes de mansidão que me engolem
olhos carnívoros da escuridão
negrume de quem já perdeu pra morte
lucidez de quem ainda bebe a vida.

Escuto a canção mas o refrão tem outras cenas
Imagem dos olhos, das mãos, da voz, da pele.

É tempo de trocar de música.
David Calil